CPI que investiga rede de exploração sexual ouviu testemunhas na cidade.
Provas podem ter sido eliminados de Conselhos Tutelares, diz deputada.
Matéria G1.COM
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Segundo a relatora da CPI, deputada Liliam Sá (PROS-RJ), duas conselheiras denunciaram nesta quinta-feira o suposto envolvimento de servidores públicos na eliminação de provas contra Adail Pinheiro. De acordo com o testemunho, pessoas teriam ido até Conselhos Tutelares de Coari e pego fichas sigilosas, que seriam usadas nas investigações.Pela manhã, casas de pessoas que supostamente sofreram recentes atentados foram visitadas pela comissão. A força-tarefa ainda esteve em uma residência conhecida como 'casa de vidro', onde acusados de aliciar crianças e adolescentes teriam realizado a seleção de meninas para o prefeito Adail. À tarde a comitiva coletou depoimentos na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Durante mais de três horas, a CPI e a força-tarefa ouviu vítimas e testemunhas no campus. Ao todo, oito pessoas prestaram depoimentos, sendo três homens e cinco pessoas do sexo feminino.
Ameaças
Duas testemunhas acusaram Adail Pinheiro de ter abusado sexualmente delas. De acordo com a CPI, uma das jovens tem 13 anos de idade e a outra tem 18 anos, mas teria sido violentada quando era adolescente. Todas as testemunhas relataram ameaças de morte por pessoas supostamente ligadas ao prefeito da cidade, incluindo conselheiros tutelares.
Uma testemunha foi ouvida por telefone, pois está escondida em Manaus e teme voltar ao município. Apesar de todo esquema de segurança da Polícia Federal e do apoio do efetivo local da Polícia Militar, uma depoente foi ameaçada no trajeto até a Ufam. A testemunha contou a CPI que um dos servidores da prefeitura abriu a janela de um carro vermelho e fez gestos, simulando a ação de apertar gatilho de arma de fogo com as mãos.
para seleção de meninas vítimas de abusos,
em Coari (Foto: Juçara Menezes/Divulgação)
"Eles relutam muito porque precisam sair do município e não querem deixar a família. Precisamos proteger as pessoas. Elas possuem o direito de denunciar essa barbárie", ressaltou Liliam Sá.
A presidente da comissão parlamentar explicou que as ações da CPI contra exploração sexual de crianças e adolescentes em Coari precisam continuar mesmo durante a prisão do acusado de chefiar a rede. "Eu vejo a barbárie contra o estado democrático de direito, que precisa ser combatida. Não podemos permitir que uma pessoa presa [Adail Pinheiro] e outros envolvidos continuem promovendo o terror em Coari, impedindo o trabalho da Justiça. A CPI veio a Coari para dizer que o estado democrático de direito não se envergará diante das ameaças", declarou a deputada Érika Kokay.
Para o promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM) Fábio Monteiro, que acompanhou as diligências e os depoimentos, o fato de Adail estar preso desde último dia 8, não eliminou os riscos para as testemunhas. O promotor afirmou que existem indícios de que há muitas pessoas a serviço do prefeito atuando na coação das vítimas. "As pessoas estão sendo ameaçadas por saber de detalhes dos crimes de pedofilia. As vítimas e testemunhas estão temerosas até mesmo pela situação jurídica, isso porque a detenção do Adail se trata uma prisão preventiva, que pode a qualquer momento ser revogada", disse.
(Foto: Adneison Severiano/G1 AM)
Diante do clima de insegurança, o MPE enfatizou que se torna, cada vez mais, imprescindível o afastamento cautelar do prefeito e dos servidores presos da prefeitura de Coari. O Ministério Público também ingressou com representação que requisita a intervenção estadual em Coari. "Por isso, o procurador-geral Francisco Cruz pediu o afastamento. Aguardamos agora a decisão do Tribunal de Justiça", frisou Fábio Monteiro.
A CPI anunciou que irá pedir a intervenção federal no município. A solicitação de intervenção federal será baseada nos relatos de ameaças dos depoentes."As pessoas estão se sentido com muito medo, principalmente as meninas que fizeram as denúncias", concluiu deputada Liliam Sá.
Além do MPE-AM, procuradores dos Ministérios Públicos Federal (MPF) e Trabalho (MPT) participaram das diligências em Coari nesta quinta-feira. Representantes do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e dos Comitês Nacional e Estadual de Enfrentamento da Violência Sexual integraram a força-tarefa. O Movimento Nacional dos Direitos Humanos também participou das ações.
Agenda da CPI
A Comissão Parlamentar de Inquérito cumprirá agenda em Manaus nesta sexta-feira (21). Uma reunião com procurador-geral de Justiça do MPE-AM, Francisco Cruz, está prevista. As deputas federais irão ainda se reunir com presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), Ari Moutinho e outros desembargadores do judiciário estadual.
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